segunda-feira, 28 de setembro de 2020

 



"Amo o que nunca chegou ou o que chegou tarde, só as coisas pequenas
podem ser grandes, o meu sono é como o sono das árvores, ventos desleixados,
minuciosos, desejos verdes de insónia, ninhos cultivados pelo esquecimento,
eu tenho fé nos ninhos abandonados. Só o que não se vê existe de verdade,
o dedo do tempo a traçar geometrias no chão, a pequena ciência da infância
a correr no meio dessas armadilhas, grãos de romã na humidade doce
da Tua boca, meu Deus! na verdade não sei o que amo, talvez ame
aquela pedra triste onde ninguém se senta, pedra fechada no ventre das ervas,
os cascos firmes no chão, no limiar da terra, sôfrega, saciada."

Nuno Higino


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