domingo, 4 de outubro de 2020

 


Na perturbação nada se acrescenta ao adicionar perturbação. 
Apenas mais perturbação.
Quando tudo já ardeu, de que serve atirar mais fogo?

Um pequeno gesto azedo e um sopro contaminado de maledicência...
e está pronto:
o alimento para a guerra quotidiana!
o alimento para a infantil existência!

Quem te empurra para a dor eterna?
Quem te obriga?
A quem serves?

Glória 

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

 



"Amo o que nunca chegou ou o que chegou tarde, só as coisas pequenas
podem ser grandes, o meu sono é como o sono das árvores, ventos desleixados,
minuciosos, desejos verdes de insónia, ninhos cultivados pelo esquecimento,
eu tenho fé nos ninhos abandonados. Só o que não se vê existe de verdade,
o dedo do tempo a traçar geometrias no chão, a pequena ciência da infância
a correr no meio dessas armadilhas, grãos de romã na humidade doce
da Tua boca, meu Deus! na verdade não sei o que amo, talvez ame
aquela pedra triste onde ninguém se senta, pedra fechada no ventre das ervas,
os cascos firmes no chão, no limiar da terra, sôfrega, saciada."

Nuno Higino


terça-feira, 26 de maio de 2020

Anoche cuando dormía



Anoche cuando dormía
soñé, ¡bendita ilusión!
que una fontana fluía
dentro de mi corazón.
Di, ¿por qué acequia escondida,
agua, vienes hasta mi,
manantial de nueva vida
de donde nunca bebi?

Anoche cuando dormía
soñé, ¡bendita ilusión!
que una colmena tenía
dentro de mi corazón;
y las doradas abejas
iban fabricando en él,
con las amarguras viejas,
blanca cera e dulce miel.

Anoche cuando dormía
soñé, ¡bendita ilusión!
que un ardiente sol lucía
dentro de mi corazón;
era ardiente porque daba
calores de rojo hogar,
y era sol porque alumbraba
e porque hacía llorar.

Anoche cuando dormía
soñé, ¡bendita ilusión!
que era Dios lo que tenía
dentro de mi corazón.

Antonio Machado